domingo, 7 de fevereiro de 2010

A DOR


K. carrega uma dor: não crer em Deus. Toda a responsabilidade acaba recaindo sobre seus ombros: desgraças grandes e pequenas. Mesmo sabendo das máculas, das feridas e das dores corroendo seu ser, ele firma pé no ateísmo. K., porém, já sentiu pontadas de fé. Foram segundos de alívio em plena concordância com um tal Karl Jaspers. K. já ficou ouvindo pregadores de rua durante horas. Homens que chamam a Bíblia de "espada". Eles saem felizes, com a missão cumprida, depois de apregoarem Deus. Mas K. sabe que o ser humano, todos nós, possuímos nossas religiões. Ele sabe perfeitamente que o ateísmo também é uma. Até mesmo o Existencialismo Ateu de Sartre é uma corrente que exige grande esforço para assimilá-la. Nos grupos radicais de esquerda seus membros confundem O Capital de Marx como regra de conduta e visão de mundo. K. até ficou sabendo da contribuição financeira obrigatória entre os ateístas partidários e a "espada" é uma promissora revolução armada. Saramago colocou Jesus na cama de Maria Magdalena, no campo da literatura ateísta. Mas propõe, o portugues que ganhu o Nobel de Literatura, um Nada para os problemas mundiais. Para K., Saramago é como todos: somos vítimas. Quem sabe se perdermos o medo, ficarmos calados e ajoelharmos não poderíamos conversar com Deus? K. sentiu outra pontada de fé. (Geraldo Magela Matias)