quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

ASAS IMAGINÁRIAS


Está tudo apagado. Não brota uma idéia, um viés sequer. K. não consegue escrever. Sua mente está mergulhada no mais profundo vazio. Talvez ele faça como Monteiro Lobato: começe a escrever para crianças. Mas mesmo assim não rola. Ele tem à sua frente uma porta de aço impedindo-o de sair desse exílio. As lembranças de quando era criança povoam sua alma. O quintal de sua casa era um mundo feliz. Agora que K. ganhou asas ele permanece em hipertrofia. O que vou escrever? Minha vida infeliz? As asas de K. o levam sempre aos alpes da malancolia. A única saída é romper a porta de aço já que as asas são imaginárias. (Geraldo Magela Matias)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

SOLIDÃO


K. já foi cercado de muitos amigos. Alguns comunistas, outros liberais. Até evangélicos. Hoje ele está sozinho no barco dos sonhos, das utopias. Uns tornaram-se promissores funcionários públicos, outros estão casados com mulheres ciumentas. Tem até dentista e secretário municipal de cultura. K. é um cidadão que merece cuidados médicos, ele sofre de Transtorno Afetivo Bipolar. A única companheira de jornada é a psicóloga, a Pérola - ela é linda. A família padece junto com k. O filho de K. lhe proporciona momentos de felicidade quando ele o abraça e diz que o "amará até o fim". A esposa de K. tornou-se uma espécie de curadoura: "vá tomar o banho, guarde os sapatos, etc."
A única fonte de alegria de K. são os inúmeros livros, a Literatura. Ele devora vários em pouquíssimo tempo. Seu autor predileto é Kafka. Mas tem uma fila enorme para ser citada. Talvez seja por isso que ele saiu da fila do sucesso profissional: ele acreditou na ficção.