sexta-feira, 19 de março de 2010


Ela entrou num bar, ou melhor, numa espelunca. Lugar predileto de K. há anos. Por ali não existe a presença feminina, mas nessa noite aconteceu. Nane entrou. Com expressão cínica na face, pediu uísque e jazz. Sentou ao balcão e olhou para k., frequentador assíduo do bar. O corpo de Nane era perfeito. "E aí, cara, você é do bem ou do mal"?", perguntou a K. "Não sei o que é bem ou mal, senhorita, nem certo ou errado". Nane começou a sorver sua bebida em silêncio. Todos os homens tentavam chamar a atenção dela. Um mandou uma bebida como cortesia. Ela levantou-se e foi até a mesa do homem devolver a bebida, "vai tomar no centro do seu ..." Dançou sozinha com o copo de uísque na mão direita. Ria ao léo. K. observou que ela era casada. "Será que ela é bem ou mal casada?", perguntava a si mesmo K. Mas ele gostou dela. Não haveria necessidade de tocá-la, apenas caminhar e conversar. Ele até esperou por isso. Nane pediu outro uísque e o bebeu de uma vez só. Pagou, deixou gorjeta e foi embora. Todos ficaram atônitos. (Geraldo Magela Matias)

terça-feira, 9 de março de 2010

DOS CÉUS


Quando criança, pequena, K. acreditava que Deus protegia. Quando alguns sobrevivem em tragédias, foi Deus era Deus quem tinha socorrido. Não consegue mais ler sobre tsunamis. Nem mesmo sobre artistas lutando contra o câncer. Quando K. era menino, ele guardava os ramos sacudidos durante a Páscoa, quando Cristo entrava em Jerusalém simbolicamente, em festividades católicas. Quando os céus ficavam escuros e a tempestade caia, K. ateava fogo nos ramos crendo na proteção divina.

Mas K. não é mais católico. Nem crê que a luta de ecologistas vai acabar com a destruição do planeta. Ele ateia fogo no seu cigarro (politicamente incorreto) e fica olhando para o céu. Os tsunamis não perdoam ninguém. Não escolhem quem vai ficar ou ir embora para sempre. Tudo culpa da ganância do mercado imobiliário - dizem que as Igrejas vendem terrenos nos céus. O país mais protestante do mundo é o que mais polui, os EUA. A chuva não faz acepção de pessoas. Ela mata quem estiver no seu rumo. (Geraldo Magela Matias)