sexta-feira, 28 de agosto de 2009

AS BARATAS


K. está estarrecido. Levantou com um gosto oxidante na língua. A adrenalina o faz lembrar até mesmo de alguns neurocientistas tomando o café da manhã. K., sem saber o motivo, lembrou-se da barata que ficou presa na porta de armário na obra de Clarice Lispector. K. chegou a pensar, na juventude, que iria ser um santo progressista, socialista. Passou a ser somente socialista. Mas todo socialista pensa em ser santo. Era a regressão. K. recebeu abraços festivos pela conquista: conseguira um "bico" de porteiro. Imaginou que iria poder ler algumas páginas de um livro qualquer, mas não, não seria possível. A empresa é de capital internacional. Menos K. é internacional; muito menos nacional ou municipal. Ele é do tamanho das baratas de Kafka e Clarice Lispector. (Geraldo Magela Matias)

Nenhum comentário:

Postar um comentário