sexta-feira, 12 de junho de 2009

O Homem que carrega a cidade


Um homem carrega nas costas uma cidade. K. afirmava: "nada de mitológico, apenas uma estória, e olha que acabaram com a palavra estória; tudo tem que vir com h na frente". E o que é real? Existe realidade? K. estava numa barbearia masculina, por lá não sabem da existência da palavra metrohomem. Um poster antigo do Botofogo e outro do Flamengo estampavam cada um dos territórios dos dois profissionais. O único elemento que os unia estava num poster que continha uma mulher nua, de pernas abertas: Vera Fischer. "Então, K., quem é esse homem que arrasta a cidade? - em tom de zombaria". K respondeu: "ele é forte como Hércules e sabe ler a cidade, suas costas estão saraivadas de balas, poluição, corrupção e muita música, sexo e coisas corriqueiras". Para K. esse homem hora tinha esperanças, outras profunda amargura. Tudo era duplo nele, menos o sexo, não havia pois mulher para ele. Ele sabia de tudo sobre a cidade. Cada buraco de rua, cada gemido feminino, cada grito masculino. Não podia fazer nada. "Ele saiu da caverna", afirmava K."via os objetos e fenômenos como eles o são". Lá no fundo da cidade tudo era imagem. K. nem ousou tocar no assunto "mídia". Se para os que viviam no meio da cidade havia possibilidades maiores imaginem para os do fundo. Mas o homem um dia rompeu os grilhões e voltou-se para a cidade. Os cidadãos do meio ficaam enfurecidos. As imagens distorcidas que eles viam eram a "realidade". O homem apanhou muito e sentiu dor. Virou-se com alegria; colocou-se olhando em posição cotidiana e fincou pé. A "realidade" era sua dor, mas sua alegria. Ele viajava entre dois polos, sempre. K. usou a escovinha para limpar seu teno e saiu em busca de mundo. (Geraldo Magela Matias)

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